Será que a música continuaria existindo no dia em que não houvesse mais ninguém para ouvir?
É óbvio que não.
Atualmente nós nos utilizamos de vários meios para reproduzi-la, entretanto esses meios são unicamente baseados no mesmo princípio. Para que alguém possa falar em um instante, tenha o som de sua voz gravado em um objeto, e, num momento posterior, tenha sua voz reproduzida com imensa fidelidade, utilizam-se princípios bem simples. A fidelidade depende da sensibilidade do instrumento que detecta a alteração no ar do ambiente na hora da fala. Estimulado pela energia sonora viajando através das partículas de gás da atmosfera local, o instrumento imprime em algum outro objeto ou em um arquivo digital uma tradução das excitações elétricas causadas pela propagação da energia advinda da fonte sonora. Quanto mais sensível for o equipamento, mais fiel ao estímulo original será a tradução. Para a reprodução, é preciso apenas que uma nova fonte sonora leia a linguagem que o instrumento de gravação imprimiu, mas dessa vez traduzindo para o idioma original. Em alguns instrumentos, trata-se de uma tradução ‘energia sonora – sensíveis estímulos elétricos’ e vice-versa. E eis que mais uma vez a música surge, quando se põe um CD num CD player.
O mesmo tipo de processo ocorre quando se toca um instrumento musical qualquer. Dessa vez a tradução ocorre nesse sentido: ‘linguagem cerebral – músculos do corpo – instrumento musical’, e dessa forma acontece, nunca a música sendo reproduzida de uma maneira idêntica à anterior. É evidente que a perda de informação entre uma reprodução e outra ocorre devido à segunda lei da termodinâmica. A energia gasta para reproduzir a música da primeira vez não será toda aproveitada pelo instrumento de gravação, assim como este não conseguirá converter com um rendimento ideal a linguagem de estímulos elétricos novamente à energia sonora. Talvez, por uma extrapolação não intencional de informações, nós obtenhamos êxito em conservar nossos trabalhos musicais. Apenas a parte mais inútil de informação é desperdiçada, mas as instruções básicas para a reprodução de uma peça musical são perfeitamente conservadas. É para isso que a notação musical existe. Eletricidade e papel podem ser desperdiçados, mas a informação gravada através da notação permanece. Talvez, através disso, uma canção possa prolongar seu tempo de vida indefinidamente.
Mas e quando não houver ninguém para reproduzi-la? Uma folha de papel preenchida não fala por si mesma, e, em uma primeira análise, não passa de uma folha industrializada provinda de uma árvore, com um pouco de tinta em cima. Somente quando alguém traduz o que está escrito de volta em energia sonora é que a música pode ser novamente percebida. Mas não é na energia sonora que a música consiste. Após essa energia atravessar o meio atmosférico “de maneira quântica” até o interior do seu ouvido, após ser retraduzida em várias linguagens diferentes dentro do seu sistema nervoso, é que ela poderá ser montada novamente e de alguma forma você a percebe. Em resumo, ela acontece dentro de você e cessa instantaneamente no momento em que você não for capaz de reproduzi-la para si mesmo. De alguma forma, uma parte energia sonora consegue deixar o meio físico e empírico que nós conhecemos e se confundir em nossas cabeças com o interior de nós mesmos. Nossa mente precisa, afinal de contas, ser estimulada de algum modo pela energia sonora para que consiga interpretá-la, mesmo que a música aconteça simplesmente através de uma comunicação entre nós e nós mesmos ao ler uma partitura.
Por si só, uma partitura não tem nenhum significado, assim como uma pedra pode não lhe sugerir nenhum som se vista. Após a destruição da partitura, a possibilidade de reproduzir a música desaparece. Enfim, a canção em si nunca existiu, tudo o que existiu foi uma comunicação interna entre a pessoa e ela mesma durante o ato de escrita ou leitura da partitura. No final das contas, tudo recai sobre a sensibilidade do ser humano, no momento de receber de si mesmo o estímulo mencionado. Mesmo que seja um estímulo inspirado em forças externas.
Sem seres vivos, então, a música estaria impossibilitada de existir! Um CD, uma partitura, um arquivo mp3, nenhum desses objetos possui um significado musical! Apenas ao texto escrito neles pode ser atribuído algum valor. Contudo, a linguagem é ela mesma outra coisa abstrata! Assim como toda a matemática, a linguagem binária não fornece um objeto existente concreto, seja na forma de matéria, seja na forma de energia. Tudo isso só tem significado quando um ser humano lê e interpreta. Em resumo, toda a cultura musical perderia seu significado no caso da inexistência repentina da humanidade.
Honestamente, a última sentença foi um tanto infeliz. Seria melhor “toda a cultura musical perderia seu significado no caso da inexistência repentina dos seres vivos.” Agora sim, a frase está precisa. O interior de um ser vivo, o mundo percebido pelos seus sentidos, é esse o único meio onde é possível que a música exista. A essa altura, é com muito receio que falo na existência da música. Faço-o, entretanto, para manter a clareza.
É óbvio que não.
Atualmente nós nos utilizamos de vários meios para reproduzi-la, entretanto esses meios são unicamente baseados no mesmo princípio. Para que alguém possa falar em um instante, tenha o som de sua voz gravado em um objeto, e, num momento posterior, tenha sua voz reproduzida com imensa fidelidade, utilizam-se princípios bem simples. A fidelidade depende da sensibilidade do instrumento que detecta a alteração no ar do ambiente na hora da fala. Estimulado pela energia sonora viajando através das partículas de gás da atmosfera local, o instrumento imprime em algum outro objeto ou em um arquivo digital uma tradução das excitações elétricas causadas pela propagação da energia advinda da fonte sonora. Quanto mais sensível for o equipamento, mais fiel ao estímulo original será a tradução. Para a reprodução, é preciso apenas que uma nova fonte sonora leia a linguagem que o instrumento de gravação imprimiu, mas dessa vez traduzindo para o idioma original. Em alguns instrumentos, trata-se de uma tradução ‘energia sonora – sensíveis estímulos elétricos’ e vice-versa. E eis que mais uma vez a música surge, quando se põe um CD num CD player.
O mesmo tipo de processo ocorre quando se toca um instrumento musical qualquer. Dessa vez a tradução ocorre nesse sentido: ‘linguagem cerebral – músculos do corpo – instrumento musical’, e dessa forma acontece, nunca a música sendo reproduzida de uma maneira idêntica à anterior. É evidente que a perda de informação entre uma reprodução e outra ocorre devido à segunda lei da termodinâmica. A energia gasta para reproduzir a música da primeira vez não será toda aproveitada pelo instrumento de gravação, assim como este não conseguirá converter com um rendimento ideal a linguagem de estímulos elétricos novamente à energia sonora. Talvez, por uma extrapolação não intencional de informações, nós obtenhamos êxito em conservar nossos trabalhos musicais. Apenas a parte mais inútil de informação é desperdiçada, mas as instruções básicas para a reprodução de uma peça musical são perfeitamente conservadas. É para isso que a notação musical existe. Eletricidade e papel podem ser desperdiçados, mas a informação gravada através da notação permanece. Talvez, através disso, uma canção possa prolongar seu tempo de vida indefinidamente.
Mas e quando não houver ninguém para reproduzi-la? Uma folha de papel preenchida não fala por si mesma, e, em uma primeira análise, não passa de uma folha industrializada provinda de uma árvore, com um pouco de tinta em cima. Somente quando alguém traduz o que está escrito de volta em energia sonora é que a música pode ser novamente percebida. Mas não é na energia sonora que a música consiste. Após essa energia atravessar o meio atmosférico “de maneira quântica” até o interior do seu ouvido, após ser retraduzida em várias linguagens diferentes dentro do seu sistema nervoso, é que ela poderá ser montada novamente e de alguma forma você a percebe. Em resumo, ela acontece dentro de você e cessa instantaneamente no momento em que você não for capaz de reproduzi-la para si mesmo. De alguma forma, uma parte energia sonora consegue deixar o meio físico e empírico que nós conhecemos e se confundir em nossas cabeças com o interior de nós mesmos. Nossa mente precisa, afinal de contas, ser estimulada de algum modo pela energia sonora para que consiga interpretá-la, mesmo que a música aconteça simplesmente através de uma comunicação entre nós e nós mesmos ao ler uma partitura.
Por si só, uma partitura não tem nenhum significado, assim como uma pedra pode não lhe sugerir nenhum som se vista. Após a destruição da partitura, a possibilidade de reproduzir a música desaparece. Enfim, a canção em si nunca existiu, tudo o que existiu foi uma comunicação interna entre a pessoa e ela mesma durante o ato de escrita ou leitura da partitura. No final das contas, tudo recai sobre a sensibilidade do ser humano, no momento de receber de si mesmo o estímulo mencionado. Mesmo que seja um estímulo inspirado em forças externas.
Sem seres vivos, então, a música estaria impossibilitada de existir! Um CD, uma partitura, um arquivo mp3, nenhum desses objetos possui um significado musical! Apenas ao texto escrito neles pode ser atribuído algum valor. Contudo, a linguagem é ela mesma outra coisa abstrata! Assim como toda a matemática, a linguagem binária não fornece um objeto existente concreto, seja na forma de matéria, seja na forma de energia. Tudo isso só tem significado quando um ser humano lê e interpreta. Em resumo, toda a cultura musical perderia seu significado no caso da inexistência repentina da humanidade.
Honestamente, a última sentença foi um tanto infeliz. Seria melhor “toda a cultura musical perderia seu significado no caso da inexistência repentina dos seres vivos.” Agora sim, a frase está precisa. O interior de um ser vivo, o mundo percebido pelos seus sentidos, é esse o único meio onde é possível que a música exista. A essa altura, é com muito receio que falo na existência da música. Faço-o, entretanto, para manter a clareza.
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