sexta-feira, 20 de maio de 2011

SOBRE A TERMODINÂMICA DA SOCIEDADE, PT. II OU SOBRE A DICOTOMIA BEM/MAL, PT. I

Nós somos seres marcados pela influência de duas forças dicotômicas, uma construtiva e outra destrutiva, do ponto de vista da cooperatividade. Formigas são seres altamente sociais, mantendo intensamente relações complexas entre si, enquanto escravizam pulgões para que produzam alimento initerruptamente. Lobos apóiam os membros da matilha, mas estraçalham os corpos de presas desavisadas. Em nós parecem residir duas forças que não podem atuar em conjunto num mesmo momento, as quais em nosso senso comum nós denominamos “bem” e “mal”.

No entanto, a manifestação dessas forças é possivelmente superestimada ao ser considerada como um fenômeno em si. Mais parece que a manifestação de uma dessas forças é a consequência visível de um processo mais fundamental e mais abstrato acontecendo. Nós recorremos a elas, afinal, ao final de uma ação, para julgá-la. Seria sensato então estudar a própria ação para obtermos uma compreensão melhor daquilo que o senso comum tão displicentemente chama de bem e mal.

Nos posts anteriores foi discutida a natureza do “pecado”, em outras palavras, a ação julgada como má. A conclusão foi de que a má ação é caracterizada por um resultado líquido prejudicial. Claramente, essa conclusão é vaga o suficiente para abranger inúmeros eventos comuns! A coisa fica mais complicada dentro do contexto temporal, onde uma má ação (que cause um trauma ou estresse, por exemplo) possa proteger um indivíduo de um evento prejudicial futuro (onde o indivíduo esteja prevenido contra o mal incorrente, ou acidentalmente retirado da área de alcance do evento prejudicial, por exemplo).

No final das contas, aquele que sofrerá as consequências das ações e aquele que as julgará é o ser. E para entendermos um pouco da natureza das ações é preciso antes entender um pouco da natureza do ser.

O ser é aquilo que não deveria ser. Surge de alguma forma a partir de existência bruta (e talvez também de um pouco de um ser anterior), desenvolve-se em existência na forma de um ser e logo depois retorna ao estado anterior de existência. Estes são os eventos previstos pelo nascimento e morte. O ser, assim representado, pode ser interpretado como uma parte de um grande sistema, sendo o próprio ser um subsistema do grande sistema (o chamemos de universo). Delimitemos também um subsistema do universo chamado “vizinhaça”, que é tudo aquilo que circunda o ser dentro de um determinado espaço não grande demais. Em nosso esquema, o ser interage imediatamente com a vizinhança, que é grande o suficiente para afastar o ser do universo de modo que as consequências dos eventos que aconteçam ao ser possam ser ignoradas fora dos limites da vizinhança. Sendo o ser e a vizinhança subsistemas do universo, o resultado líquido da interação entre ser e vizinhança poderá ser medido como uma mudança nas propriedades do universo.

Analisemos o ciclo de vida de um ser. Partindo do pressuposto de que ele não existe, ou não existe de forma complexa, antes do nascimento, é como se ele possuísse um valor nulo ou quase nulo de complexidade no instante de seu nascimento. Na região do universo em que o novo ser surgirá, existiam talvez apenas alguns seres e formas brutas de existência (como a matéria), com suas complexidades definidas e variando de um modo definido. No entanto, quando o novo ser surge, uma nova fonte de complexidade aparece, e o ser vai se desenvolvendo em uma existência cada vez mais complexa ao longo do tempo.

O que acontece nesse meio tempo são processos ainda não compreendidos, que vão ser sentidos no mundo físico de formas muito estranhas, como o movimento de quantidades de massas entre posições distintas no universo, variação das propriedades termodinâmicas do sistema relacionado à existência bruta associada ao ser (ou melhor dizendo, seu “corpo”) e a aquisição, transmissão e armazenamento de informações entre vários objetos físicos. Entre esses vários sintomas estranhos, dois podem ser considerados notórios para a interepretação da existência do ser através de fenômenos físicos: a variação total da entropia e a variação total da energia livre do universo.

A partir de seu nascimento, o ser se torna gradativamente mais complexo, sem que possamos explicar esse mecanismo de uma maneira clara, no entanto, analisando sua contraparte física, conseguimos medir o grau de expressão dos sintomas físicos que o processo de complexação do ser provoca. A sua contraparte física seria justamente aquele subsistema do universo físico que parece ser diretamente influenciado pela vontade e ações do ser, e que pode ser subdividido em “corpo” e “meio ambiente”, onde “corpo” representa o sistema físico delimitado espacialmente pelo volume do espaço geométrico ocupado pelo corpo de um indivíduo vivo e “meio ambiente” representa o espaço físico-geográfico mais sensivelmente influenciado pelo corpo do indivíduo.

O que quer que aconteça ao ser em sua dimensão fundamental, no universo físico o seu corpo (o sistema físico denomidado “corpo” definido logo anteriormente) sofrerá as consequências, que a partir desse corpo serão transmitidas para o meio ambiente. A análise puramente teórica da influência desse processo nas propriedades do universo é suficiente para afirmarmos que, como resultado de qualquer interação entre o corpo e o meio ambiente, a entropia do universo sempre aumenta, e sua quantidade de energia livre diminui. Para o sistema físico, essas duas propriedades termodinâmicas sempre respondem nesse sentido quando se avança com o processo de complexação do ser. Somos capazes agora de inferir uma relação indireta entre o processo de complexação do ser e as consequências físicas de tal processo por nós sentidas.

Muito bonito, mas qual a importância disso? Tudo isso serve-nos para dizer (com segurança) apenas que a segunda lei da termodinâmica (todas as leis, aliás) se aplica aos seres e seu processo de desenvolvimento. O que isso quer dizer é que, não importa que tipo de existência seja, mais entropia será gerada no universo desde que essa existência não permaneça imutável, e, consequentemente, para cada processo, cada fenômeno, cada ação, um desperdício energético será provocado. Esse desperdício energético é descontado diretamente da energia total disponível para que os processos ocorram. Pondo em termos mais simples, é como se um processo ao ser realizado tornasse cada vez mais difícil a realização do próprio processo, através da menor disponibilização de energia para que ele ocorra, é como uma pessoa comendo uma tigela cheia de arroz e, para cada grão de arroz que come, mais difícil será para ela comer todo o resto do arroz na tigela.

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