I. A ausência de diferenças
Em um post anterior (DA DESUMANIZAÇÃO) descrevi a ocorrência dos fenômenos da consciência e da mente em termos de três níveis distintos de manifestação. Mais do que isso, afirmei que os preceitos então proclamados se estendiam a qualquer forma de vida sensciente conhecida. Justificado nesse embasamento teórico, acredito não haver nenhuma clara distinção entre as formas de vida senscientes conhecidas.
II. Evolução
Em sociologia, existem duas vertentes opostas apelidadas de naturalismo e antinaturalismo, uma defendendo a aplicação do método científico às ciências sociais e a outra tentando separar o mundo natural do mundo social, respectivamente. O Homo sapiens sapiens pertence a uma espécie animal, derivada através da evolução e adaptação, e sujeita à mesma. As inconstantes leis da física que permitiram o estudo biológico que levou a compreensão atual da história do surgimento e do desenvolvimento do ser humano, assim como o método científico utilizado para determiná-las e validá-las certamente se aplicam a qualquer esfera da ciência, seja a esfera natural ou a esfera social, pelo que o Homo sapiens e tudo o que conhecidamente o circunda pertence ao mundo natural. Defendo expressamente, portanto, a aplicação do método científico nas ciências sociais.
Me identifico, contudo, com o antinaturalismo, em certo ponto. A evolução humana neste momento não está mais restrita ao mecanismo genético, mas sujeita às racionalizações da própria espécie humana. Existe atualmente (ou pelo menos há potencial para existir, que precisará ser explorado através das barreiras da bioética – quebrando-as ou estendendo-as) um ou mais mecanismos de evolução que não a seleção natural, tais como uma forma de evolução cultural e a engenharia genética. A capacidade de racionalização da espécie humana lhe confere essas novas propriedades evolutivas, que serão inexoravelmente exploradas por qualquer espécie que atinja essa capacidade.
A evolução humana, no momento atual, está atravessando um período polêmico. Chegou a época em que a racionalidade e a emoção começam a ser confrontados. Por exemplo, no mundo social foram criados construtos para sustentar a moral, que é baseada na emoção. A moral defende a honra, o valor, a benevolência e tantos outros conceitos que derivam de ou suscitam emoções. As emoções, no entanto, não são conceitos bem definidos em termos científicos e parecem elementos acessórios do mundo natural ou da racionalidade. Mesmo assim, em posts anteriores, defendi a manifestação social de emoções positivas baseado em argumentos racionais e científicos, o que ajuda a começar a descomplicar um pouco as coisas.
As emoções parecem ser a chave para o que caracteriza a manifestação intelectual dos animais superiores. A moral, a benevolência, a solidariedade e a cooperatividade transcendem a barreira da virtualidade da mente e parecem se encaixar perfeitamente nas nossas finanças energéticas ajustando a nossa termodinâmica para a estabilidade e a eficiência ideais.
Portanto, venho aqui defender a incorporação das emoções nos mecanismos da evolução humana (de um modo especial, mas também na evolução das outras formas de vida), de modo a extender e atualizar os construtos sociais para que harmonizem as nossas relações intraespecíficas e para que harmonizem também as nossas relações interespecíficas.
III. O Abandono da Natureza
III.I O espaço da moral
Na natureza existem comportamentos selvagens diversos, e nós, como pertencentes à ela, apresentamos os mesmos comportamentos (bem como outros particulares), e estamos sujeitos aos mesmos princípios biológicos (e porque não dizer psicobiológicos). Em um ambiente selvagem, a racionalidade e o medo predominam em função da sobrevivência, dando pouca função a moral. Conceitos como dignidade, vergonha e solidariedade raramente surgem em contextos de ecossistemas selvagens.
Através do nosso desenvolvimento técnico-científico, pudemos expandir a fronteira de nosso nicho de modo a fornecer o espaço necessário para a função dos elementos da moral. O instinto de sobrevivência não mais reduz a prioridade da moral e das emoções, e baseamos a arquitetura de nossa sociedade nesses elementos.
Como venho defendendo e continuarei a defender nos próximos posts, a humanidade apenas progredirá como espécie caso insira os elementos emocionais determinantes de sua psicobiologia nos seus mecanismos de evolução. A nossa evolução intelectual é uma forma de evolução biológica (e é capaz de direcionar esta).
III.II O novo design inteligente
Como esclarecido no post SOBRE A TERMODINÂMICA DA SOCIEDADE, parte 1, as emoções positivas permitem que indivíduos de uma mesma espécie se relacionem de forma que maximizem a eficiência em sua realização de tarefas, tornando a população como um todo um grupo mais estável e flexível e consequentemente resistente. Se uma única formiga não é capaz de construir um formigueiro, bilhões de formigas são capazes de dominar hectares. Se eliminar uma única formiga parece fácil, eliminar todas as formigas não é sequer um ato discutível.
A estabilidade de um grupo também não quer dizer sua estagnação. Uma população estável pode continuar se adaptando, exercendo sua flexibilidade, até que um novo estado de equilíbrio seja atingido. Quando as condições do ambiente forem tais que não seja possível que a população mantenha sua estabilidade, que atinja um equilíbrio, o processo de seleção natural poderá eliminá-la.
Esses são alguns dos novos recursos que herdamos, como animais superiores. Somos umas das muitas espécies que respeitam padrões sociais que conferem resiliência a grupos interespecíficos. O modo de tirarmos proveito dessas ferramentas da evolução é exercitando e desenvolvendo os princípios da moral, da cooperatividade, da harmonização, da benevolência.
III.III Os erros de nossos pais
Baseado nisso, defendo a extensão dos direitos básicos a todos os animais, com adaptações necessárias para que se leve em conta a intelectualidade das outras espécies. Não advogo uma polícia do ambiente selvagem, em que uma espécie interfira diretamente no ciclo da vida para fazer respeitado o princípio do não-assassinato, é necessária apenas uma limitação na conduta humana a casos em que esta espécie se envolva diretamente com outras, em que essas determinadas relações sejam harmonizadas.
Em outras palavras, isso quer dizer que devemos abandonar o comportamento natural (selvagem). Na natureza, visto que o instinto de sobrevivência merece grande prioridade, pouco espaço sendo permitido à moral e às emoções, mata-se, trai-se, desrespeita-se, leza-se, ignora-se o sofrimento alheio em função do próprio bem estar. Há casos frequentes de promiscuidade, conjunta com violência. Todo esse painel inerente ao ciclo da vida deve ser abolido com o surgimento da moral. Não cabe mais aos animais que atingiram nível intelectual suficiente se sujeitarem às mesmas atitudes do clássico ciclo da vida. A tentativa humana de se encaixar no ciclo selvagem leva apenas a frenagem do nosso desenvolvimento.
Olá Renato,
ResponderExcluirO que você chama de evolução? Um mecanismo que faz com que os seres vivos fique cada vez melhores? Mais adaptados ao meio? Se sim, saiba que nem sempre é assim que as coisas acontecem.
A evolução, cientificamente falando, quer dizer mudança. Para melhor? Para pior? Não se sabe, aliás, nem é plausível enquadra-la nessas categorias. A seleção natural foi um meio que Darwin achou para explicar essas mudanças.
Daí se desenvolveu a Biologia Evolutiva, a qual dá todo o sentido para o estudo das ciências biológicas.
Então quando você diz que a evolução humana está passando por um momento polêmico, você está restringindo todo um mecanismo que abrange todas as formas de vida, e vem ocorrendo desde que vida é vida, a uma ínfima pretensão estritamente humana.
A evolução não está passando por nada, ela vai continuar existindo tendo ou não genética, tendo ou não moral, emoção e bons costumes. E por mais que fujamos da natureza, do selvagem, estaremos sempre a mercê disso.
Pensar assim não é querer "retornar ao selvagem". Mas não ache você que com o nosso conhecimento temos o poder de mudar o rumo da evolução, que não temos.
ResponderExcluirPodemos melhorar geneticamente uma planta hoje, a ponto de ela ser resistente a certas pragas, mas essas pragas também podem sofrer mutações que as tornem capazes de atacar aquela planta futuramente.
Podemos nos extinguir com a nossa própria "inteligência". Afinal, o que é inteligência? Porque você se considera mais inteligente que os outros seres vivos? Porque você sempre usa o termo "seres superiores"?
Para que você entenda de fato o princípio da vida é preciso se desapegar um pouco do mundo humano. Pensamos do nosso ângulo. É natural nosso humanizar, mas pense um pouco em "mosquear" ou "borboletar". Difícil? Impossível.
A vida é mais complexa do que um primer num túbulo de microcentrífuga, no entanto não há um misiticismo na vida, o qual nos faça denominar seres superiores, a evolução não tem base nem topo.
E se você parar para pensar, em um segundo nosso desenvolvimento pode ser totalmente paralizado com uma catástrofe.
O que é o nosso desenvolvimento?
*quando eu mensionei genética na 17a linha do primeiro comentário, me referi à engenharia genética.
ResponderExcluirEu não discordo de nada do que você comentou. Outro dia posto um argumento em resposta ao seu comentário, mas não vai ser para rebater. Continuo defendendo meu ponto de vista, mas dessa vez ajudado pelo seu olhar crítico. Antes de mais nada, gostaria de avisar que eu ainda estou no processo de tentar desumanizar minha visão. Por conta disso, minha escrita se torna tendenciosa. Peço desculpas por essa parcialidade humana.
ResponderExcluirAntes que eu me esqueça, obrigado pela sua crítica! Foi extremamente construtiva!
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