segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Termodinâmica para a vida

Termodinâmica, você nos ensina sobre a inexorabilidade da vida. Não odeio você, mas você muito me entristece, e entristece a todos nós. Você nos permite enxergar a razão pela qual não podemos ter o que queremos, mas apenas o que nos foi dado. A energia livre está a disposição de todos, mas não há nenhuma forma de criá-la, ou de conservá-la. Ela só diminui com o mero passar do tempo. Talvez o passar do tempo tenha alguma relação direta com essa diminuição.

As suas leis são claras, não podemos ganhar o jogo, não podemos empatar, não podemos nem ficar só assistindo. E a medida que o tempo vai passando, o jogo vai chegando perto do fim. Podemos até inventar uma prorrogação, pênaltis, sugando a última gota de energia útil assoprando pelo canudo com um estardalhaço. Mas nossas tentativas fúteis apenas irão nos aproximar mais rapidamente da morte térmica, quando povoaremos um cemitério semelhante a um jardim de estátuas, onde partículas inertes encerrarão toda a memória do que já foi movimento que não poderá jamais ser lembrada. Caso contrário, todos seremos enterrados no interior de um buraco negro inimaginável, onde até o tempo deixará de existir, e, portanto, nosso sofrimento. O que acontecerá após o próprio tempo desvalecer, como poderemos saber? Como poderemos evitar os calafrios mórbidos na espinha ao imaginar a possibilidade? Talvez esse seja o próprio Xeol de que os judeus falam.

Mas não se trata só do fim do tempo, sua inexorabilidade ata nossas mãos a todo momento. Ao existirmos, aproveitamos a energia livre na qual nadamos, mas como não podemos criá-la nem fazer dela o que bem entendermos, porque não somos máquinas cem porcento eficientes, nos limitamos ao que o universo pode nos dar, e não ao que aspiramos. Às vezes temos sorte, e nascemos no interior de um sistema bem organizado. Mas a esmagadora maioria surge no âmago do caos. O caos que só se multiplica, exponecialmente, apesar de qualquer esforço, mesmo que sejamos capazes de o cobrirmos com uma lona barata para não o vermos, mas ele está bem ali na periferia de nossa civilização, e é uma montanha de lixo maior do que qualquer planeta que povoemos. Qualquer estrela que rodeemos. Qualquer buraco negro que exploremos.

O caos cresce ao nosso lado e para sempre será maior que nós, e por ser aleatório, probabilístico, lançará seus tentáculos sobre as pessoas que amamos. E depois sobre nós mesmos. E depois sobre o último fóton. E depois, minha melhor esperança é que ele lance seus tentáculos sobre si mesmo, se devore e vomite tudo aquilo que engoliu, para que o nosso ciclo de perturbação existencial possa ter prosseguimento novamente. Indefinidamente.

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